Esplanada
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregularesonde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramago e coisas assim
eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora do liceu:
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos de andar como dantes,
chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina em Encontros de Talábriga, 1999
Sem comentários:
Enviar um comentário