sexta-feira, 30 de maio de 2014

Enquanto a chama arder ... | Maria Gadú



No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera  poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar
...

Deixa eu dançar para o meu corpo ficar ODARA ...



Odara, termo de origem hindu. Significa paz e tranquilidade.

Rodrigo Leão e Olafur Arnalds

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Pedro Lamares diz Alberto Caeiro



Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro, poema XXI

VOAR. AH, VOAR!

Voar: esforço de desmemória  que consiste em extrair da mente todo o peso do real.

VOAR. AH, VOAR!
Nascemos sem asas, mas com a capacidade de as sonhar. Existem tantas lendas antigas sobre homens voadores quantos balões há no céu. Sonhadores -pessoas com a cabeça nas nuvens, como se dizia antigamente, antes de andarmos todos realmente com a cabeça entre as nuvens - costumam ver melhor o que está para vir. Quanto mais alto estivermos, mais longe vemos.

em A vida no céu de José Eduardo Agualusa, Quetzal, sétimo capítulo.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Mariza canta Fernando Pessoa: Do vale à montanha




Música de Mário Pacheco, poema de Fernando Pessoa

Viagem | A Vida no Céu de José Eduardo Agualusa

Viagem: todo o movimento de aproximação de uma pessoa a outra. Movimentos de fuga não são viagens.

A Vida no Céu de José Eduardo Agualusa, Quetzal, 2013

Spread those wings, fly free with swallows ... | Burn it blue



Burn it blue de Elliot Goldenthal | Banda sonora do filme Frida, interpretada por Caetano Veloso e Lila Downs.  Ver  poema

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Identidade

Identidade: não tem a ver com o lugar onde nascemos, pois no céu tudo  é movimento, e sim com os lugares por onde passamos. Identidade é o que a viagem faz de nós enquanto continua. Só os mortos, os que deixaram de viajar, possuem uma identidade bem definida.

em A Vida no Céu de José Eduardo Agualusa, Quetzal

terça-feira, 20 de maio de 2014

Outono de Joaquim Pessoa

Uma lâmina de ar
atravessando as portas. Um arco,
uma flecha cravada no outono. E a canção
que fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.
E um velho marinheiro, grave, rangendo o cachimbo como
uma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.
É outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza
quando saio para a rua, molhado, como um pássaro.
Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se
da minha revolta última. Ou do teu nome que repito.
Hoje há soldados, elétricos. Uma parede
cumprimenta o sol. Procura-se viver.
Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.
Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se
como se, de repente, não houvesse mais nada senão
a imperiosa ordem de (se amarem).
Há  em mim uma ternura desmedida pelas palavras.
Não há palavras que descrevam a loucura, o medo, os sentidos.
Não há um nome para a tua ausência. Há um muro
que os meus olhos derrubam. Um estranho vinho
que a minha boca recusa. É  outono.
A pouco e pouco despem-se as palavras.

em 125 poemas Antologia Poética, de Joaquim Pessoa, Litexa, 1982 (um dos meus primeiros livros de poesia.).

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Júlio Resende | Foi Deus



(...)
Foi Deus
Que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à primavera
Ai!, e deu-me esta voz a mim.

poema de Alberto Janes

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quem me leva os meus fantasmas | Maria Bethânia



De que serve ter o mapa se o fim está traçado
De que serve a terra à vista se o barco está parado
De que serve ter a chave se a porta está aberta
Para que servem as palavras se a casa está deserta?

em Quem me leva os meus fantasmas Pedro Abrunhosa

O Estilo de Herberto Helder | Pedro Lamares



Do livro Passos em Volta de Herberto Helder

Epifania em A Vida no Céu

Epifania: um súbito e quase milagroso sentimento de compreensão de algo. Um relâmpago íntimo e silencioso, capaz de dividir a vida de uma em duas partes - atrás a escuridão, adiante uma luz reluzente.

em A Vida no Céu de José Eduardo Agualusa

sexta-feira, 9 de maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Cantar de Amigo de Messéder

Do meu amigo não sei
o nome nem o paradeiro
sei apenas como o vi
a olhar-me o tempo inteiro

Não lhe conheço a morada
só sei que olhava e olhava,
nos seus olhos como um rio
os meus olhos desaguavam.

Essa manhã não queria
lembrar-me as horas, o tempo.
Meu amigo caminhou
com seus cabelos ao vento,

As mãos eram brancas e longas
na fronte tinha uma estrela
e a sua maneira de olhar
dizia-me o nome dela.

O meu amigo não quis
levar-me naquele momento
apenas convidar-me
a adivinhar-lhe o intento.

Só quero do meu amigo
Olhá-lo de corpo inteiro.
Que venha de novo amanhã
à hora do sol primeiro.

em De que cor é o desejo de João Pedro Messéder