terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

De Izinsiz Gosteri



Gaelle Boissonard

É outono, onde a mais bela aventura se escreve exactamente sem nenhuma letra.

É outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um verão
sem a febre de tantos lábios,
sem nenhum rumor de lágrimas
nas pálpebras acesas.

Deixa-me só, vegetal e só,
correndo como rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
se escreve exactamente sem nenhuma letra.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nascem flores vermelhas pela primavera





















in Zeca Afonso - o Andarilho da voz de ouro de José Jorge Letria e Evelina Oliveira (ilustradora)


Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia?

E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira 

Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia


poema de José Afonso

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

21 de fevereiro: dia internacional da língua materna.

É em português que eu sinto, que eu amo, que eu vivo e, por isso tento ter cuidado na forma como me exprimo (nem sempre com pleno sucesso, confesso!). Tentar falar e escrever de forma correta (com acordo ou sem acordo) é o mínimo que cada um pode fazer para dignificar este bem.


"O português é a língua oficial de oito países - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - em quatro continentes - África, América, Ásia e Europa. A língua atravessa assim um espaço descontínuo ao longo de uma área vasta do globo terrestre (7,2 por cento da terra do planeta), abrangendo realidades extremamente diversas que se reflectem na multiplicidade de falares. 

José Saramago disse “não há uma língua portuguesa, há línguas em português“. Agualusa, numa entrevista ao blogue Porta-Livros, refere: "O português é uma construção conjunta de toda a gente que fala português e isso é que faz dele uma língua tão interessante, com tanta elegância, elasticidade e plasticidade."

Este dia é comemorado desde Fevereiro de 2000 com o objectivo de promover a diversidade linguística e cultural e o plurilinguismo e foi proclamado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 17 de Novembro de 1999.


Nota: esta foto foi copiada do FB de Andante Associação Artística cujo mural é uma fonte de conhecimento a nível da ilustração e da poesia. Visite-o e conheça o trabalho que eles fazem. Muito BOM!

Zeca Afonso | Que amor não me engana



Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia?

E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira

Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia

de José Afonso

sábado, 18 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ao menos uma vez, gostava de escrever um poema assim.

Júlio Machado Vaz à conversa com Aurélio Gomes, num programa de rádio, O Sexo dos Anjos - Rádio Nova, Porto entre 1989 e1997

Falavam  a propósito de um poema de Sérgio Godinho "Que há-de ser de nós?" 


"Aurélio Gomes - Ao menos uma vez , gostava de escrever  um poema assim. Ou só um verso!

Júlio Machado Vaz - É fascinante ver as nossas vidas transfiguradas pelo talento dos poetas. Sabe você, o único prémio atribuído a Freud, foi-o pela qualidade literária da sua obra. O velho Sigi escrevia maravilhosamente. Sobre o amor era um pouco pessimista quanto às possibilidades da Ciência, aconselhava as pessoas a interrogar os poetas e os apaixonados. O Eugénio tem dois versos que rezam assim: «Nenhum amor é estéril, um filho pode ser uma estrela ou um verso.» É verdade. As relações desfazem-se ante os nossos olhos, os outros escapam-se-nos por entre os dedos e nós pensamos «por que raio me meti nisto, os sinais estavam à vista!» Mas lá no fundo sabemos que não nos poderíamos ter dado ao luxo de não tentar, ficaríamos sempre a pensar «e se eu ...?» Por isso os técnicos de educação sexual citam tantas vezes a velha frase - «Pode-se transmitir o conhecimento, mas não a sabedoria.» Essa adquire-se à nossa custa. E à custa dos outros! 

Aurélio Gomes - Antes do programa, e para mudar de tema, o doutor estava a conversar com amigos nossos  acerca da Agustina Bessa Luís ..."

Este excerto foi descontextualizado do capítulo "Que há-de ser de nós?", que começa  "Se a paixão der lugar ao amor, para onde vamos depois? Mais amor ou comodismo?" - pergunta Aurélio Gomes.


em  O Sexo dos Anjos de Júlio Machado Vaz, Relógio d' Água, 1991 (excerto)
Que há-de ser de nós? - poema de Sérgio Godinho, música de Ivan Lins. Do álbum "Coincidências", 1983.

ONE MOMENT IN TIME



WHITNEY HOUSTON:  ONE MOMENT IN TIME

Each day I live
I want to be a day to give the best of me
I'm only one, but not alone
My finest day is yet unknown
I broke my heart for ev' ry again
to taste the sweet, I face the pain
I rise and fall, yet through it all this much remains
I want

One moment in time
When I'm more than I thought I could be
When all of my dreams are a heart beat away
and the answers are all up to me
Give me one moment in time
When I'm racing with destiny
and in that one moment of time
I will feel, I will feel eternity

I lived to be the very best,
I want it all,  no time  for less
I've laid the plans
Now lay the chance here in my hands
Give me ...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O amante é sempre o último a saber | Rui Zink

Há algum tempo, publiquei um post sobre O amante é sempre o último a saber,  que eu decidi retirar pelo facto de ainda não ter lido o livro. Tenho que confessar que foi o título que me aguçou a curiosidade e que me levou a procurar informação. Fiquei com vontade de o ler! Não pelo título, como é evidente, que é "enganador"  e ainda bem. Se tal não fosse, correria o risco de ser uma história banal. Ou talvez não...

Como também não conhecia Rui Zink como escritor, achei que tinha chegado a altura de o fazer, alargando, assim, os meus horizontes literários que são muito restritos, como é notório, neste blogue.

Neste romance, Rui Zink devolve à palavra "amante / amador" o seu sentido original "aquele que ama não como o terceiro, mas como o primeiro". No seu discurso sobre o seu livro, Zink arrisca, ainda, uma definição de amor "O que é o amor? É quando duas pessoas que não se se conhecem de lado nenhum, de repente se tornam essenciais uma para a outra. Isso é o amor!"

E quem fala de amor fala também do desamor e como tudo "isto" pode ser comparável ao ato de ler.  Muito interessante ouvir o discurso de Rui Zink sobre os temas que ele relaciona com o seu romance. Sigam o link! Não deixem de o ouvir!

Sobre a história de amor entre Teresa e Tano, cito, novamente o autor "Tal o amor tiverdes, tereis a experiência de meus versos." Camões. 

Ainda não o acabei de ler, mas devo terminá-lo em breve (coisa rara!).

"A leitura é um ato de disponibilidade para ir visitar um mundo que não é o meu ..." Rui Zink
É desta forma que eu também gostaria que este blogue fosse "lido".

E a quem que, por aqui, passa, por acaso ou não, desejo muito boa(s) leitura(s).

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

No teu poema existe um verso em branco e sem medida



No teu poema
existe um verso em branco e sem medida
um corpo que respira, um céu aberto
janela debruçada para a vida

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta uma varanda para o mundo

Existe a  noite
o riso e a voz refeita à luz do dia
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria

Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste
que vence ou adormece antes da morte

No teu poema
existe o grito e o eco da metralha
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonos inquietos de quem falha

No teu poema
existe um canto, chão alentejano
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio
o canto em vozes juntas, vozes certas
canção de uma só letra
e um só destino a embarcar
no cais da nova nau das descobertas

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste
que vence ou adormece antes da morte

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro.

poema e música de José Luís Tinoco