segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ITHACA de C.P. Cavafy dito por Sean Connery




ITHACA

As you set out for Ithaca
hope that your journey is a long one,
full of adventure, full of discovery.

Laistrygonians and Cyclops,
angry Poseidon - do not be afraid of them:
you'll never find things like that on your way
as long as you keep your thoughts raised high,
as long as a rare sensation
touches your spirit and your body.

Laistrygonians and Cyclops,
wild Poseidon - you won't encounter them
unless you bring them along inside your soul,
unless your soul sets them up in front of you.

Hope that your journey is a long one.
May there be many summer mornings when,
with what pleasure, what joy,
you come into harbors seen for the first time;
may you stop at Phoenician trading stations
to buy fine things,
mother of pearl and coral, amber and ebony,
sensual perfume of every kind -
as many sensual perfumes as you can;
and may you visit many Egyptian cities
to learn and learn again from those who know.

Keep Ithaca always in your mind.
Arriving there is what you're destined for.
But do not hurry the journey at all.
Better if it lasts for years,
so that you're old by the time you reach the island,
wealthy with all you have gained on the way,
not expecting Ithaca to make you rich.

Ithaca gave you the marvelous journey.
Without her you would not have set out.
She has nothing left to give you now.

And if you find her poor, Ithaca won't have fooled you.
Wise as you will have become, so full of experience,
you will have understood by then what these Ithacas mean.

 C.P. Cavafy

Let it snow | Diane Krall

If de Rudyard Kipling

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Inquietação: há sempre qualquer coisa que está para acontecer




A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda


Inquietação de José Mário Branco | A NAIFA

sábado, 21 de dezembro de 2013

Inverno: Sputnik, meu Amor

A leitura de Sputnik meu Amor  foi interrompida pelo outono. Poucos romances me entusiasmam, infelizmente! Comecei a lê-lo na aldeia de Minas de São Domingos, onde o verão é mais quente e as férias convidam a este prazer, entre um banho na tapada e uma sesta. Hoje, dia em que começa o inverno e as noites são longas e frias, retomo a sua leitura.

"O gelo é frio e as rosas são vermelhas. Estou apaixonada. E este amor vai arrastar-me para longe. A corrente é demasiado forte, não tenho escolha possível. Mas já não posso voltar atrás. Só posso deixar-me ir com a maré. Mesmo que comece a arder, mesmo que desapareça para sempre."  Lê-se na contracapa da 3ª edição da Casa das Letras.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Fora de tempo | Luisa Sobral




Fora de tempo

Fora de tempo pôs-se o sol
e a lua fora de tempo também
fora de tempo nasceram dois
filhos da mesma mãe

Fora de tempo brotaram da terra
flores e espinhos também
fora de tempo ficaram longe
mais longe do que convém

Fora de tempo o que era quente
gelou até matar tudo
se um cantava no silêncio
fora de tempo ouviu-se um grito mudo

O tempo também se engana
nas casas onde mora
o mau tempo que faz dentro
nem sempre é tão bom de fora

Fora de tempo o que era água
teimou em ser areal
fora de tempo já se notava
que um vê bem e o outro mal

Fora de tempo tudo voltou
ao tempo que era atrás
e dentro do tempo um partiu mais cedo
e o outro ficou para amar

Letra de Luis Represas

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Solo sé que no sé nada | Rodrigo Leão e Daniel Melingo



No sé nada

Querido amigo, yo no sé, nada
Solo sé, que a la hora de jugar, igual a la hora de llorar
No sé nada, de nada
Yo sé que hoy, no pueden pedirme nada
Porque hoy, es el gran día
El día de la Paz, y la Felicidad

Solo sé que no sé nada
Corazón batiendo fuerte
Sentimiento de viajen
Solo sé que no sé nada

Tierra bendita, tierra linda!
Mi corazón está ay, donde debe estar
Batiendo fuerte en el pecho
Llegará mi cuerpo, llegará mi cuerpo
Después mi alma, pero sabiendo solo una cosa
Que nada Sé
Mi querido camarada, le envío un gran saludo
Recordando solo una cosa. Ya la sabe, no?

Solo sé que no sé nada
Corazón batiendo fuerte
Sentimiento de viajen
Solo sé que no sé nada

Música de Rodrigo Leão e letra de Daniel Melingo

Às vezes o amor | Márcia



Que hei-de eu fazer
Eu tão nova e desamparada
Quando o amor
Me entra de repente
P´la porta da frente
E fica a porta escancarada

Vou-te dizer
A luz começou em frestas
Se fores a ver
Enquanto assim durares
Se fores amada e amares
Dirás sempre palavras destas

P´ra te ter
P´ra que de mim não te zangues
Eu vou-te dar
A pele, o meu cetim
Coração carmesim
As carnes e com elas sangues

Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
é cego e surdo e mudo

E o dia tão diário disso tudo

E se um dia a razão
Fria e negra do destino
Deitar mão
À porta, à luz aberta
Que te deixe liberta
E do pássaro se ouça o trino

Por te querer
Vou abrir em mim dois espaços
P´ra te dar
Enredo ao folhetim
A flor ao teu jardim
As pernas e com elas braços

Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo

E o dia tão diário disso tudo

Mas se tudo tem fim
Porquê dar a um amor guarida
Mesmo assim
Dá princípio ao começo
Se morreres só te peço
Da morte volta sempre em vida

Às vezes o amor
No calendário, noutro mês é dor,
É cego e surdo e mudo

E o dia tão diário disso tudo
Da morte volta sempre em vida

poema de Sérgio Godinho

sábado, 7 de dezembro de 2013

A canção do tempo | Ary dos Santos



A canção do tempo

Para um tempo que fica
Doendo por dentro
E passa por fora
Para o tempo do vento
Que é o contratempo
Da nossa demora

Passam dias e noites
Os meses...os anos
O segundo e a hora
E ao tempo presente
É que a gente pergunta
E agora...e agora

Tempo
Para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para emendar pois outro tempo menos lento

Tempo
Dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que apanha sempre o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir

Ai...o tempo constante
Que a cada instante
Nos passa por fora
Este tempo candente
Que é como um cometa
Com laivos de aurora

É o tempo de hoje
É o tempo de ontem
É o tempo de outrora
Mas o tempo da gente
É o tempo presente
É agora...é agora

Tempo
Para agarrar cada momento deste tempo
E terminar em absoluto ao mesmo tempo
Em temporal como os ponteiros do minuto

Tempo
Para o relógio bater certo com a vida
Que um homem bom que um homem são que um homem forte
Que não chegava a conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte

Ary dos Santos

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Madiba | I am the master of my fate: / I am the captain of my soul




Invictus por Morgan Freeman

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Ernest Henley

O meu lado esquerdo é mais forte do que o outro | CLÃ



O meu lado esquerdo
é mais forte do que o outro
é o lado da intuição
É o lado onde mora o coração

O meu lado esquerdo
Oriente do meu instinto
É o lado que me guia no escuro
É o lado com que eu choro e com que eu sinto

Meu é o meu foi o meu lado esquerdo
Que me levou até ti
Quando eu já pensava
Que não existias para mim no mundo

O meu lado esquerdo não sabe o que é a razão
É ele que me faz sonhar
É ele que tantas vezes diz não

 Meu é o meu foi o meu lado esquerdo
Que me levou até ti
Quando eu já pensava
Que não existias para mim no mundo

 Clã

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

O caçador de borboletas | José Eduardo Agualusa

"(...)
- Agora és minha - disse-lhe -, toda a tua beleza me pertence.

- Isso não é possível- era a borboleta que falava.- Sabes como surgiram as borboletas? Foi há muito, muito tempo, na Índia. Vivia então ali um homem sábio e bom, chamado Buda ...
Vladimir esfregou os olhos:
- Meu Deus, estou a sonhar?

A borboleta riu-se:
- Isso não tem importância. Ouve a minha história. Buda, o tal homem sábio e bom, achou que faltava alegria ao ar. Então colheu uma mão cheia de flores e lançou-as ao vento e disse: voem! E foi assim que surgiram as primeiras borboletas. A beleza das borboletas é para ser vista no ar, entendes? É uma beleza para ser voada.

- Não! - disse Vladimir abanando a cabeça. - Eu sou um caçador de borboletas. As borboletas nascem, voam e morrem, e se não forem os colecionadores, como eu, desaparecem para sempre.
A borboleta riu-se de novo (um riso calmo, como um regato correndo ...)

- Estás enganado. Há certas coisas que não se podem guardar. Por exemplo, não podes guardar a luz do luar, ou a brisa perfumada de um pomar de macieiras. Não podes guardar as estrelas dentro de uma caixa. No entanto podes colecionar estrelas. Escolhe uma quando a noite chegar. Será tua. Mas deixa-a guardada na noite. É ali o lugar dela.

Vladimir começava a achar que a borboleta tinha razão.
- Se eu te libertar agora - perguntou -, tu serás minha?
A borboleta fechou e abriu as asas iluminado o frasco com uma luz de todas as cores.
- Já sou tua - disse -, e tu já és meu. Sabes? Eu coleciono caçadores de borboletas.

Vladimir regressou a casa alegre como um pássaro. O pai quis saber se ele tinha feito uma boa caçada. O menino mostrou-lhe com orgulho o frasco vazio:

- Muito boa - disse - Estás a ver? Deixei fugir a borboleta mais bela do mundo."

in Estranhões & Bizarrocos (estórias para adormecer anjos) de José Eduardo Agualusa. Ilustrado por Henrique Cayatte.

Teoria Geral do Sentimento | Nuno Júdice