quarta-feira, 27 de março de 2013

Dia Mundial do Teatro: Olhos de Gigante por o Bando

"Todas as formas de arte estão ao serviço da maior de todas as artes: a arte de viver." Bertolt Brecht
   

" 'Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça a ir diretamente para a loucura, não tenhas medo! Deixa-a ir até à loucura! Ajuda-a a ir até à loucura. Vai tu também, pessoalmente, com a tua cabeça até à loucura!’. 

Enquanto alguns só veem aquilo que está mais perto, ocupados com os afazeres de cada dia, outros sonham com as paisagens e as quimeras mais longínquas, sem conseguirem distinguir os contornos que os rodeiam. Uns não sabem sonhar senão a vida, outros não sabem viver senão o sonho. Mas como se mantém então o mundo a funcionar? E que mundo é o nosso que, vivido ou sonhado, esconde sempre um outro lado?

Queremos partir para o desconhecido, sabendo que é preciso parar para partir, mesmo que se parta sem sair do lugar. Sabendo que se lá chegarmos não poderemos mais perguntar à nossa sombra: de quem foges tu? Sabendo que algo terá de desaparecer quando a luz se apagar. Acreditando que alguma coisa finalmente aparecerá quando a escuridão se acender.”

Almada Negreiros

Teatro O Bando

em o Teatro Nacional D. Maria II

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia mundial da poesia: Maria Bethânia e Fernando Pessoa




Guardador de rebanhos de Alberto Caeiro dito por Maria Bethânia. Magistral!





Para ser grande, sê inteiro:
nada Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis

quarta-feira, 20 de março de 2013

Primavera: poesia, música e Lhasa

Hoje começa  a primavera e amanhã comemora-se o Dia mundial da poesia. Como não imagino a minha vida sem poesia e sem música, saúdo esta estação com Lhasa, Pa' llegar a tu lado. Ouçamo-la!

 

je remercie ton corps de m' avoir attendue
 il a fallu que je me perde pour arriver jusqu´à toi

je remercie tes bras d' avoir pu m' atteindre
 il a fallu que je m' éloigne pour arriver jusqu´à toi

je remercie tes mains d' avoir pu me supporter
il a fallu que je brûle pour arriver jusqu´à toi

Lhasa de Sela

sexta-feira, 15 de março de 2013

Esta espécie de loucura por Carlos Baptista




Esta espécie de loucura
Que é pouco chamar talento
E que brilha em mim, na escura
Confusão do pensamento,

Não me traz felicidade;
Porque, enfim, sempre haverá
Sol ou sombra na cidade.
Mas em mim não sei o que há

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

segunda-feira, 11 de março de 2013

O que me confortou e aqueceu neste inverno

Neste inverno, que está quase a terminar, ouvi novas sonoridades - Aline Frazão, Márcia, António Zambujo, Ana Moura, Júlio Resende, Elisa Rodrigues, Selma Uamusse, Luísa Sobral, ... cujas músicas ouvi vezes sem fim. Para esta descoberta contribuíram as pessoas que estão na minha vida e me enriquecem. São elas que, verdadeiramente, me confortam e onde eu, efetivamente, me aqueço. 

Descobri a poesia de Manuel António Pina e continuo apaixonada pela Arrábida. Os sentimentos, esses, mantêm-se complexos e  indecifráveis ...

Espero que gostem desta  ESTAÇÃO que é a minha! E a todos os que, aqui, param,  por acaso ou não, já sabem que são sempre muito bem vindos.
Fado contido

O grito que este meu peito
Insiste em guardar sozinho
Desagua no teu leito
perde força no caminho

Chega a ti feito um lamento
Não é mais do que gemido
Canta a voz do desalento
Parece um fado contido

Em ti esquece que é grito
Tranforma-se em canção
Desmaia no corpo aflito
Ganha força no coração

Grito que este meu peito
Insiste em guardar sozinho
Virou canto do meu jeito
Para te encontrar no caminho.  


Letra: Ana Geraldo
Música: Rogério Charraz

Não digas nada | Fernando Pessoa




Não digas nada de Fernando Pessoa dito por Carlos Baptista

Não digas nada
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver ...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada ...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa em Cancioneiro

domingo, 10 de março de 2013

Pra quem quer | Márcia




Tanta coisa
que o meu corpo arrasta
e tinge a pardacento
Cada ruga
que em meu rosto rasga
e é minha para sempre.
Que eu não sei apagar
ainda as que ganhei.

Cada coisa
que me foi contada
aviva a minha mente.

Mesmo a sobra
da mais vil desgraça
arrisca a ir em frente.
Não se tem a pensar
naquilo que não tem.

Olha as mãos se não tens nada.
que a vida joga a sorte pra quem quer.
Chega só na dose errada,
e às vezes sem se ver.

Olha as mãos se não tens nada.
que a vida joga a sorte pra quem quer.
chega só na dose errada,
e às vezes sem se ver 

Agora É | Manuel António Pina

Agora É

Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro

Agora estamos misturados
no meio de nós já não cabe o amor´
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora

Manuel António Pina em Poesia Reunida

sábado, 9 de março de 2013

Pensar de pernas para o ar é uma grande maneira de pensar

Pensar de pernas para o ar
é uma grande maneira de pensar
com toda a gente a pensar como toda a gente
ninguém pensava nada diferente

Que bom é pensar em outras coisas
e olhar para as coisas noutra posição
as coisas sérias que cómicas que são
com o céu para baixo e para cima o chão.

Manuel António Pina, O Inventão, Asa, 2003



Inês | Luísa Sobral e Zambujo




Inês do álbum There's a flower in my bedroom

Todo o poeta ou escritor
Todo o actor ou escultor
Sonha um dia amar assim
Sonha ter alguém para si

Todo o cantor, compositor
Largava tudo por este amor
Por um dia amar assim
Por um beijo num banco de jardim

Mas o amor não é para qualquer um
Ser artista não é uma vantagem
Os artistas amam um dia
Vendo amor apenas de passagem

Quando o poeta sentir a dor
Da mais antiga história de amor
Só então vai entender
Porque Inês amou até morrer

 Mas o amor não é para qualquer um
Ser artista não é uma vantagem
Os artistas amam um dia
Vendo amor apenas de passagem

Vendo amor apenas de passagem ...

Para ouvir a versão completa clique aqui.

Elisa Rodrigues e Júlio Resende



A TUA FRIEZA GELA

Queria ser teu namorado,
Morar dentro dos teus olhos;
Perder-me nos muitos folhos
Do teu vestido encarnado.

 Mas tu ficas à janela
Sem ver sequer quando eu passo;
E a tua frieza gela
O calor do meu abraço.

Queria pegar-te na mão,
Deixar-me levar às cegas;
Perder-me nas muitas pregas
Do teu vestido de Verão.

Mas tu nem olhas para mim
Não sabes que te desejo,
Deixas um gosto ruim
Na doçura do meu beijo.

Letra: Maria do Rosário Pedreira 
Música: António Zambujo

terça-feira, 5 de março de 2013

O regresso | António Manuel Pina


António Manuel Pina
Como quem, vindo de países distantes fora de
si,chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

Manuel António Pina em Como se desenha uma casa, Assírio & Alvim, 2011

segunda-feira, 4 de março de 2013

Cansaço | Fernando Pessoa



Poema dito por Carlos Baptista

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
— Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

em Cansaço de Fernando Pessoa

domingo, 3 de março de 2013

Elisa Rodrigues e Júlio Resende



A TUA FRIEZA GELA

 Queria ser teu namorado,
Morar dentro dos teus olhos;
Perder-me nos muitos folhos
Do teu vestido encarnado.

 Mas tu ficas à janela
Sem ver sequer quando eu passo;
E a tua frieza gela
O calor do meu abraço.

Queria pegar-te na mão,
Deixar-me levar às cegas;
Perder-me nas muitas pregas
Do teu vestido de Verão.

Mas tu nem olhas para mim
Não sabes que te desejo,
Deixas um gosto ruim
Na doçura do meu beijo.

Letra: Maria do Rosário Pedreira 
Música: António Zambujo