domingo, 29 de abril de 2012

A sagração da primavera I Olga Roriz



Dia 29 de março, dia mundial da dança, A celebração da primavera, de Stravinsky, coreografia de Olga Roriz. CCB, dia 29 de março de 2010.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril: para lembrar sempre!

De Ana Rosinha. Manhã gelada de janeiro, em  2011. Inesquecível! 

terça-feira, 24 de abril de 2012

Miguel Portas: para lembrar sempre!

"Aos 13 anos, o Miguel era sardento, louro, espigado e irrequieto. Foi numa assembleia de estudantes do ensino secundário, que se realizou na cantina de Económicas, o ISEG de hoje, que o ouvi. Estávamos do mesmo lado. Discussões acaloradas, heroísmo à flor da pele, a ditadura e a guerra pela frente – nessa altura, o futuro era magnífico. E foi. O 25 de Abril e os melhores anos da nossa vida, como dizia o José Afonso.

Economista por empréstimo, foi sempre jornalista e político por vocação. Com a vertigem dos anos finais da ditadura, entrou na UEC e foi escolhido para a sua comissão central em 1974. Do PCP sairia em 1989, quinze anos depois e sem mágoas, sempre respeitador dessa vida militante. Entretanto, foi animador cultural na Câmara de Ourique e na serra algarvia. Aprendeu o trabalho local, a importância da cultura e da comunicação popular. Tornou-se jornalista, lançou a revista "Contraste" em 1986 e fez dela um ícone da cultura à esquerda. Foi depois jornalista do "Expresso", a partir de 1988, e editor internacional da sua revista até 1994. Fez a cobertura da campanha eleitoral do PSR em 1991, e lembro-me de como se divertia com a minha ingenuidade sobre o que seria ser deputado. Tinha razão. 

A partir de 1995, fez aquilo de que mais gostava, criou um jornal em que podia agir com as suas próprias escolhas. O "Já" foi essa aventura, depois a "Vida Mundial". Fez a cobertura da queda do regime da Roménia, onde sentiu o cheiro do 25 de Abril e os riscos do que aí vinha. Com jornalistas, amigos, gente de talento e de vontade, inventou jornalismo, fez actualidade, lutou pelas ideias, convidou opiniões. Que falta que faz um jornal como esses.

Escreveu três livros: “E o Resto é Paisagem” (2002), “No Labirinto”, sobre o Líbano (2006) e “Périplo”, sobre as histórias do Mediterrâneo, com Cláudio Torres (2006). Como sempre lembra o Inimigo Público, o suplemento satírico do Público, a sua profunda ligação ao Médio Oriente levava-o a interessar-se pela sua gastronomia, pelo cinema, pelas lendas, pelas histórias, pelos partidos, pelas guerras e pela paz. Tomou posição. Arriscou-se. Falou com todos. Atravessou o Líbano debaixo de bombardeamento israelitas. Defendeu energicamente o povo palestino. Juntou-se às vozes dos movimentos de paz em Israel.

Viveu a vida intensamente e com gosto. Foi dirigente do Bloco e eurodeputado até ao último momento. Incentivou-nos da cama do hospital. Combinou a sua viagem que faltava, à Birmânia, e que nunca fará. Despediu-se dos filhos.

Viveu connosco e nós vivemos com ele. Perdemo-lo e não o esquecemos. Um abraço com ternura, Miguel."   Texto de Francisco Louça

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Só por existir ...






Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar

Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
Chamei casa a esse lugar

E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não tem chão
E as mãos perdem a razão

Só por enfrentar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
Deixo o tempo decidir

E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão

Só por existir
Só por duvidar
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar
E sei que nenhuma vai ganhar

de Jorge Palma

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Dia da voz: poesia.



Rogério Samora diz Cesariny, Em todas as ruas te encontro.

Uma esplanada sobre o mar de Vergílio Ferreira

Vergílio Ferreira
- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar a olhar para ele e não me cansar da sua monotonia.
O rapaz tinha o olhar absorto na extensão das águas e permaneceu calado algum tempo. As águas brilhavam com o reflexo do sol na agitação breve das ondas. A rapariga calava-se também, fitando o rapaz, porque percebia que ele não acabara de falar. Mas o rapaz calou-se como se não tivesse mais nada a dizer
- Mas que é que querias dizer-me?
- Mesmo as coisas mais banais são diferentes se alguma coisa importante se passou em nós.
- Se alguma coisa importante se passou em nós, não reparamos nas coisas - disse a rapariga, acendendo um cigarro.
- Que coisa importante? - perguntou a rapariga
Mas ele não respondeu e ela perguntou outra vez.
 - Que coisa importante?
- Não sei. Uma coisa importante. Se te morresse o pai e a mãe e ficasses subitamente sozinha, o mundo transfigurava-se. Se tivesses tentado o suicídio e te salvassem, mesmo as pedras e os cães começavam a ser diferentes porque os olhavas com outros olhos.
E de novo se calou. Mas agora também a rapariga se calava na indistinta ameaça de não sei o quê. O sol rodara um pouco, apanhava agora a cabeça do rapaz, incendiando-lhe o cabelo tombado para a testa. Levantou-se, tentou ela fazer girar o guarda-sol azul no pé de ferro articulado, seguro com um gancho recurvo e uma pequena corrente. Sentou-se de novo mas verificou que ficava ela agora com uma mancha que lhe apanhava um ombro e o braço e uma pequena zona da face. Bebeu um pouco de refresco, olhou distraidamente a linha longínqua do limite do mar. Havia no rapaz uma notícia a dar, mas a rapariga não sabia como fazer a pergunta certa para estar certa com a resposta que queria ouvir. E de súbito disse:
- Pediste-me para estar aqui às quatro horas.Telefonaste duas vezes. Vieste à praia para isto. Porque é que afinal vieste.
-  Mas tenho estado a explicar-te porque vim.
- Tens estado a explicar porque vieste. Mas falta o mais importante. Falta dizeres que está tudo acabado. falta dizer que essa tal tua amiga conseguiu o que queria. Falta dizer que nunca me achaste tão bela como hoje, mas que já me não  podes amar. Falta dizer isso, mas tens de preparar o terreno, porque a coragem nunca foi o teu forte e julgas que não é o meu.
 Falava devagar mas com uma grande intensidade interior e, ficou assim ruborizada, os olhos brilhantes de violência. O rapaz ouviu-a e não respondeu. pensou primeiro concordar com a rapariga e dizer-lhe talvez que já não a amava. Evitava assim dizer-lhe a verdade. Quando ela depois a soubesse, talvez já não sofresse, talvez o esquecesse mais depressa. Mas sofreria ele por aceitar uma mentira que ia contra o que sentia. Julgava ser mais fácil dizer tudo e via agora que não.
 - Nada disso é verdade - disse por fim.
O mar brilhava cada vez mais. As placas incandescentes tremeluziam nas águas e faziam semicerrar os olhos ao rapaz. Vergou-se para a mesa e bebeu um gole de refresco."

in Uma esplanada sobre o mar de Vergílio Ferreira (excerto)