sábado, 29 de outubro de 2011

Tantas são as coisas que não faremos nunca.

"O céu brilha azul e côncavo, sobre a minha cabeça. Há-de estar cheio de anjos sem asas, como os que vi, numa manhã sem outro milagre, há muitos anos, na cúpula da Capela Sistina. Sei disso porque daqui onde eu estou os sinto a respirar. Penso em todos os lugares que gostaria de visitar contigo. No que gostaria de fazer contigo - e não farei nunca:
Ler-te as ficções, de Borges.
Rir, enquanto nadássemos entre golfinhos, no mar sem maldade de Fernando Noronha.
Dormir no deserto.
Ensinar-te a flutuar no mar liso do Mussulo (ilhéu dos Padres).
Ensinar-te a dançar o tango.
Beijar os teus lábios depois de comermos juntos sorvete de pitanga.
Ver contigo Deus e o Diabo na Terra do Sol, do Glauber Rocha. Aliás ver contigo toda a filmografia de Glauber Rocha.
Desenhar, e depois construir, a casa perfeita.
Voar num balão sobre as montanhas da Huíla e o deserto do Namibe.
Passear de mãos dadas, no Parque Güell, em Barcelona.
Etc., etc., tantas são as coisas que não faremos nunca."

em Milagrário pessoal de José Eduardo Agualusa, D. Quixote  (texto com supressões)






Sem comentários: