quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Uma esplanada sobre o mar de Vergílio Ferreira

"Pôs-lhe a mão no braço e olhava-o fixamente. Ele olhou-a também e ambos ficaram a tentar entender-se em silêncio. Depois ela tirou a mão do braço do rapaz e acendeu novo cigarro. O sol escorria do alto e inundava-lhes  agora toda a mesa. O rapaz tomou o copo e bebeu um gole devagar.
- Diz outra vez - repetiu a rapariga. - Deixa-me entender. Diz outra vez para entender tudo muito bem.
- Tu vais dizer que tudo isto é estúpido e eu sei bem que é. Mas se a gente pensar bem, a estupidez é só nossa.
- Sim. Mas explica tudo muito bem. Desde o princípio. Devagarinho.
- A estupidez é só nossa, porque a vida não é verdade. Mas é a única coisa em que se acredita - disse o rapaz.
- Sim - repetiu a rapariga. - Mas era bom que explicasses desde o princípio. Devagarinho. Para eu não acreditar também. Está um dia cheio de sol.
- Mas a explicação é simples - disse ele, balouçando o líquido no fundo do copo. - Eu vou explicar tudo. Eu vou.


Estava uma tarde cheia de sol. As águas brilhavam até ao limite do horizonte, um barco à vela ia passando pela estrada de lume. O ar estava quente. E a brisa do mar quase não chegava ali."

Final de  A esplanada sobre o mar de Vergílio Ferreira, Difel (ver mais aqui)

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