terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Um balanço é mesmo balançar, balançar até dar balanço ...

Em jeito de balanço, aqui fica, para vós que, por aqui passam, e param nesta estação, onde eu partilho sentimentos, paixões, música, poesia, ...  Balançar!!


São sempre muito bem vindos em As Estações do Ano, há quatro anos nestas paragens (http://hivert.blogspot.pt).
Desfrutem ... se for caso disso, claro!

Sara Oliveira

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Dizer que sim à vida por Luanda Cozetti | Ary dos Santos



Dizer que sim à vida
Dizer que não à morte
Dizer na despedida
Que o tempo é o mais forte
Dizer que sim à vida
Dizer que não à morte
Jogar na despedida
A carta que é a sorte
Dizer a toda a gente
Que o amor de repente
Entrou no nosso jogo
Dizer a toda a gente
Que o nosso corpo é quente
A nossa boca ardente
E a nossa alma fogo...
E se não for verdade
Tudo o que nós dizemos
Tudo o que nós sentimos
Também não é saudade
Dizer que sim à vida de Ary dos Santos

Cada história é um retalho cortado no coração ... | Ary dos Santos


Retalhos por Luanda Cozetti

Serras, veredas, atalhos,
Estradas e fragas de vento,
Onde se encontram retalhos
De vidas em sofrimento

Retalhos fundos no rostos,
Mãos duras e retalhadas
Pelo suor do desgosto,
que talha as caras fechadas

O caminho que seguiste,
Entre gente pobre e rude,
Muitas vezes tu abriste
Uma rosa de saúde

Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão

As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São a água que tu bebeste
Dos olhos de um povo triste

E depois de tanto mundo,
Retalhado de verdade,
Também tu chegaste ao fundo
Da doença da cidade

Da que não vem na sebenta,
Daquela que não se ensina,
Da pobreza que afugenta
Os barões da medicina

Tu sabes quanto fizeste,
A miséria não se cura,
Nem mesmo quando lhe deste
A receita da ternura

Cada história é um retalho
Cortado no coração
De um homem que no trabalho
Reparte a vida e o pão

As vidas que defendeste,
E o pão que repartiste,
São a água que tu bebeste
Dos olhos de um povo triste

Retalhos de Ary dos Santos

domingo, 19 de janeiro de 2014

Coração recente | Eugénio de Andrade

Eras tu? Era o dia
acabado de nascer?

Que rosa abria? Rosa
ou ardor? Não seria

só desejo de ser
um travo de alegria

um fulgor? Um fluir?
Eras tu? Era o dia?

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

(In)quietude e (in)constância.




     De onde se veem as estrelas e a lua, s/d

   " Liberdade: condição de um ser não sujeito ao constrangimento de limites físicos ou de pensamento. A possibilidade de correr sem tropeçar em muros ou paredes, ou sem cair no vazio. O destino de todos os perfumes, em particular do cheiro de terra molhada".

em A Vida no Céu de José Eduardo Agualusa (brevíssimo dicionário filosófico do mundo flutuante para uso de nefelibatas amadores.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Enquanto não há amanhã, ilumina-me | Pedro Abrunhosa



Coliseu do Porto, 2011

A Vida no Céu | José Eduardo Agualusa

 A Vida no Céu, um romance para jovens e outros sonhadores de José Eduardo Agualusa, no qual se inclui um brevíssimo dicionário do mundo flutuante para uso de nefelibatas amadores.


"Os meus olhos viajam mais do que as minhas pernas. O meu pensamento mais do que os meus olhos. Sentei-me no convés, contemplando o laborioso espetáculo do vento esculpindo nuvens, criando, a cada instante, novas figuras.
Aquilo sempre me fascinou. Os papagaios voavam entre os dois balões, gritando uns com os outros na sua língua misteriosa. Enquanto observava as nuvens, ia listando os mistérios com que, nas últimas semanas, o destino me brindara."

Céu: todo o território onde a vida é mais leve do que o ar. (...) O lugar para onde ascendem os sonhos.

Viagem: todo o movimento de uma aproximação a outra. Movimentos de fuga não são viagens.

Magia: chama-se magia à forma como o sonho interfere com a realidade, modificando-a. O céu foi sempre um território propenso à magia. (...)

Luz: o que fica dos sonhos depois que nos atravessam.





Liberdade: condição de um ser não sujeito ao constrangimento de limites físicos ou de pensamento. A possibilidade de correr sem tropeçar em muros ou paredes, ou sem cair no vazio. O destino de todos os perfumes, em particular do cheiro de terra molhada.

A Vida no Céu editado pela Quetzal, 2013

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

E por vezes as noites duram meses | David Mourão Ferreira

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão Ferreira

René Magritte | The Lovers


    About his paintings Magritte wrote “they evoke mystery and, indeed, when one sees one of my pictures, one asks oneself this simple question, ‘What does it mean?’ It does not mean anything, because mystery means nothing either, it is unknowable.”

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Nunca são as coisas mais simples que aparecem ...

Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples, 
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios.

Nuno Júdice