segunda-feira, 10 de março de 2014

Catorze de Junho dito por José Saramago



Catorze de Junho

Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos?
O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito. Não se afastou o tempo.
Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.

em Poesia Completa

1 comentário:

Graça Pires disse...

Gostei muito do poema e de o ouvir pela voz de José Saramago. Mais uma vez obrigada por este momento.
Beijo.