Comecei a escrever numa noite de primavera, uma incrível noite de vento leste e junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite.
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quasi palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Como sempre a noite de vento leste misturava extasi e pânico.
Sophia de Mello Breyner
Porto, 9 de maio de 1934
Porto, 9 de maio de 1934
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