"Uma Esplanada sobre o Mar era certamente onde gostarias de passar muito tempo. Eu sei que eu adoraria, sempre! E sei que, quando encontras uma a aproveitas, mais do que eu ... Aproveita também esta!" (dedicatória, Natal 95)
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- Desculpa, fiz-te esperar - disse ele.
- Cheguei há pouco (...)
O sol caía em cheio sobre a praia, iluminava o mar até ao limite do horizonte.
- Que é que me querias dizer? - perguntou de novo a rapariga.
Ele sorriu-lhe e tomou-lhe uma das mãos que tinha sobre a mesa.
- Gostei de te ver - disse depois. - Gosto de te ver como nunca. Fica-te bem o vestido branco.
- Já mo viste tanta vez.
- Nunca to vi como hoje. Deve ser do sol e do mar.
- Que é que querias?
- Deve ser dos olhos limpos com que to vejo hoje.
- Nunca reparaste que há certas coisas que nós já vimos muitas vezes e que de vez em quando é como se fosse a primeira?
- Nunca reparei - disse a rapariga.
- Nunca ficaste a olhar o mar muito tempo?
- Sim, já fiquei.
- Ou o lume de um fogão? - disse o rapaz.
- E que queres dizer com isso?
- Ou uma flor. Ou ouvir um pássaro cantar.
- Sim, sim.
- Não há nada mais igual do que o mar ou o lume ou uma flor. Ou um pássaro. E a gente não se cansa de os ver ou ouvir. Só é preciso que se esteja disposto para achar diferença nessa igualdade. Posso olhar o mar e não reparar nele, porque já o vi. Mas posso estar horas a olhar e não me cansar da sua monotonia."
Excerto de Uma esplanada sobre o mar, de Vergílio Ferreira
3 comentários:
Um texto lindíssimo! A diferença está "naquele dia" em que o normal nos surpreende. Adoro esses dias.
É pena serem poucos.
Eis a razão pela qual dificilmente seria feliz se vivesse no interior...
Gosto muito da escrita do Vergílio Ferreira. De facto olhamos tantas coisas sem as vermos, até que um dia reparamos que a beleza sempre ali esteve...
Beijos.
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