domingo, 25 de dezembro de 2011

A Estrela | Noite de Natal de Sophia.

Quando se viu sozinha no meio da rua teve vontade de voltar para trás. As árvores pareciam enormes e os seus ramos sem folhas enchiam o céu de desenhos iguais a pássaros fantásticos. E a rua parecia viva. Estava tudo deserto. Àquela hora não passava ninguém.
"Tenho medo", pensou ela. Mas resolveu caminhar para a frente sem olhar para nada.
Quando chegou ao fim da rua virou à direita e meteu a um atalho entre dois muros. E no fim do atalho encontrou os campos, planos e desertos. Ali sem muros nem árvores nem casas, a noite via-se melhor. Uma noite altíssima redonda e toda brilhante. O silêncio era tão forte que parecia cantar. Muito ao longe via-se a massa escura dos pinhais.
"Será possível que eu chegue até lá?", pensou Joana. Mas continuou a caminhar.
"Tenho frio", pensou Joana. Mas continuou a caminhar.
Joana parou um instante no meio dos campos.
"Para que lado ficará a cabana?", pensou ela.
E olhava em todas as direções à procura de um rasto.
"Como é que eu hei de encontrar o caminho?", perguntava ela.
E levantou a cabeça.
Então viu que no céu, lentamente, uma estrela caminhava. Esta estrela parece um amigo", pensou ela.
E começou a seguir a estrela."

A Noite de Natal de Sophia de Mello Breyner Andersen (excertos)

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