quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mon mec à moi | Patricia Kaas




Il joue avec mon coeur,
Il triche avec ma vie,
Il dit des mots menteurs,
Et moi, je crois tout'c qu'il m'dit.

Les chansons qu' il me chante,
Les rêves qu' il fait pour deux,
C'est comme les bonbons menthe,
Ça fait du bien quand il pleut.

Je m' raconte des histoires,
En écoutant sa voix,
C'est pas vrai ces histoires
Mais moi j' y crois!

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit
Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu' il m'dit
Tellement je crois tout'c qu' il m'dit
Oh oui!
Mon mec à moi

Sa façon d'être à moi
Sans jamais dire "je t'aime"
C'est rien que du cinéma
Mais c'est du pareil au même
Ce film en noir et blanc
Qu' il m'a joué deux cents fois
C'est Gabin et Morgan
Enfin, ça ressemble à tout ça

Je me raconte des histoires
Des scénarios chinois
C'est pas vrai ces histoires
Mais moi j' y crois

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit
Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu' il m'dit
Tellement je crois tout'c qu' il m'dit
Oh oui!
Mon mec à moi

Mon mec à moi Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit
Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit
Tellement je crois tout'c qu'il m'dit

Mon mec à moi
Il me parle d'aventures
Et quand elles brillent dans ces yeux
Je pourrais y passer la nuit
Il parle d'amour
Comme il parle des voitures
Et moi je le suis où il veut
Tellement je crois tout'c qu' il m'dit
Tellement je crois tout'c qu' il m'dit
Oh oui!
Mon mec à moi!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Branca Aurora | Cristina Branco e Jorge Palma

Branca Aurora (ouvir aqui )

A Branca Aurora perdeu o cartão de cidadão
Nunca teve passaporte e não sabe bem a idade
Gosta de sentir o chão a afagar-lhe as plantas dos pés
A Branca Aurora perdeu o cartão de cidadão

A Branca Aurora deu cabo do espelho retrovisor
Acredita que o passado nunca teve grande futuro
E que o futuro está bem mais distante de tudo o que era dantes
A Branca Aurora deu cabo do espelho retrovisor

E se ela dança
Todos os passos em redor são seus
Quando ela balança
Salta do vocabulário a palavra adeus

A Branca Aurora é um manancial de inspiração
Goza com a própria sorte e não tem medo do destino
Se alguém lhe oferece um cocktail ela pede um molotov
A Branca Aurora é um manancial de inspiração

E se ela dança
Todos os passos em redor são seus
Quando ela balança
Salta do vocabulário a palavra adeus

A Branca Aurora não vive no reino das ilusões
Quando vai ao mercado chega sempre fora de horas
Tira sempre partido daquilo que os outros deitam fora
A Branca Aurora não vive no reino das ilusões

Branca Aurora do álbum Alegria de Cristina Branco. Poema de Jorge Palma.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Arrábida: num tempo em que não havia tempo

... entro no amor como em casa.

Amor como em casa

Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que não é nada comigo.
Distraído percorro o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.

 Manuel António Pina em Ainda Não É O Fim Nem O Princípio Do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde(1974)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Momentos mágicos: Aline Frazão



Poema em sol poente de Aline Frazão

domingo, 17 de fevereiro de 2013

There is a sea, a far and distant sea


- Ouve:

There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray.
Where all my dreams of yesterday
Are mine.

Lá fora as lâmpadas da rua já se tinham apagado havia muito tempo.
Era tarde. E o brilho da hora tardia deslizava docemente em roda das mãos e dos copos sobre a mesa polida.
A Lua já tinha desaparecido e o nevoeiro, aéreo e branco, começava a subir do mar e entrava pela janela aberta.
 - Voltou o nevoeiro - disse alguém.
Olhámos a janela. Agora o perfume que vinha de fora era ainda mais marítimo e mais fresco. Às vezes ouvia-se ao longe o apitar dos comboios.

Excerto do conto A Praia de Sophia de Mello Breyner Andersen

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Nunca tinha caído de tamanha altura em mim


Café Orfeu

Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.

Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.

Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.
E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém (eu provavelmente)
nunca tivesse existido

Manuel António Pina

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A casa do mar de Sophia

Há na casa algo de rude e elementar que nenhuma riqueza mundana pode corromper, e, apesar do seu halo de solidão e do seu isolamento na duna, a casa não é margem mas antes convergência, encontro, centro.
Quem das janelas do corredor olha para e vê o muro de granito, as árvores na distância e os telhados a oeste, aquilo que vê aparece-lhe como um lugar qualquer da terra, como um acidente, um lugar ocasional entre o acaso das coisas.
 Mas quem do quarto central avança para a varanda e vê, de frente, a praia, o céu, a areia, a luz e o ar, reconhece que nada ali é acaso mas sim fundamento, que este é um lugar de exaltação e espanto onde o real emerge e mostra seu rosto e sua evidência.
Pelo gesto de dobrar o pescoço e de sacudir as crinas, as quatro fileiras de ondas, correndo para a praia, lembram fileiras brancas de cavalos que no contínuo avançar contam e medem o seu arfar interior de tempestade. O tombar da rebentação povoa o espaço de exultação e clamor. No subir e descer da vaga, o universo ordena seu tumulto e seu sorriso e, ao longo das areias luzidias, maresias e brumas sobem como um incenso de celebração.
E tudo parece intacto e total como se ali fosse o lugar que preserva em si a força nua do primeiro dia criado.

Final do conto A casa do mar de Sophia de Mello Breyner, 1970

Esplanada | Manuel António Pina

Esplanada

Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

agora lês saramago e coisas assim
eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora do liceu:
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos de andar como dantes,
chamando do fundo do meu coração.

Manuel António Pina em Encontros de Talábriga, 1999

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser ...

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...


E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Poemas"

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Nove anos procurou Blimunda.

Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar. Conheceu todos os caminhos do pó e da lama, a branda areia, a pedra aguda, tantas vezes a geada rangente e assassina, dois nevões de que só saiu viva porque não queria morrer. (...)
Nove anos procurou Blimunda. Começou por contar as estações, depois perdeu-lhes o sentido. Nos primeiros tempos calculava as léguas que andava por dia, quatro, cinco, às vezes seis, mas depois confundiram-se-lhe os números, não tardou que o espaço e o tempo deixassem de ter significado, tudo se media em manhã, tarde e noite, chuva, soalheira, granizo, névoa e nevoeiro, caminho bom, caminho mau, encosta de subir, encosta de descer, planície, montanha, praia do mar, ribeira de rios,  e rostos, milhares e milhares de rostos, ...

Memorial do Convento de José Saramago