sexta-feira, 5 de março de 2010

PARAR para LER

E, na nossa aula de LP, parámos para ler. O Ricardo já tinha escolhido o conto O pai que se tornou mãe, e convidou a Catarina para ler com ele. Então, ouçam!

"Toda a gente sabe que são as mães que trazem os filhos dentro da barriga. Os bebés formam-se no ventre das mães, crescem, e depois saltam cá para fora - para a luz.
O que pouca gente sabe é que há uma excepção. Existe uma espécie animal em que é o pai que cria os filhos dentro da barriga e é ele que os entrega à luz: o cavalo-marinho. Como é que isto aconteceu? É essa a história que hoje vos quero contar: uma incrível história de amor. O fim talvez seja um pouco triste. Mas é sempre assim: as histórias de amor só são felizes quando não as contamos até ao fim.
Há muito, muito tempo, no tempo em que os Homens ainda não falavam, nesse tempo vivia no mar um casal de cavalos-marinhos. O mar, para eles, era um imenso jardim. Naquele tempo estava tudo no princípio, todas as coisas eram novas e brilhavam. Mário e Maria gostavam de passear, de descobrir animais estranhos, paisagens perdidas, outros mares.
(...)
Uma manhã Maria acordou doente. Tinha perdido o brilho. Ela que sempre tivera uma cor tão bonita, estava a ficar baça e transparente. Sentia-se muito leve, sentia que alguma coisa se apagava lentamente dentro dela. (..) À medida que as horas passavam Maria tornava-se menos existente -- desaparecia.
- Não me deixes- pediu-lhe Mário - Ainda temos tanta coisa a descobrir.
Maria ficou com pena. Não podia deixá-lo tão sozinho. Com as poucas forças que lhe restavam encostou-se a ele.
- Vou dar-te os nossos filhos - disse- quando eles nascerem mostra-lhes o mar.
Disse isto num suspiro e desapareceu. Durante os primeiros dias, sozinho, Mário sentiu-se perdido. O mar deixara de ser um jardim: achava-o agora grande, escuro e perigoso.
(...)
Então, numa manhã de muito sol, com o mar todo iluminado, Mário viu que a sua barriga se abria,e viu saltarem lá de dentro dezenas de pequeninos cavalos-marinhos. Eram os seus filhos.
Talvez há pouco me tenha enganado. Parece-me agora que esta história tem um final feliz. Porque decidi que ela acaba aqui, num nascimento, e porque a partir daquela manhã de sol, passou a existir um pai que dá à luz."*

Os alunos, no final, bateram palmas e eu adorei ouvi-los.

*in Estranhões e Bizarrocos de José Eduardo Agualusa (texto com supressões)
 Ilustrações de Henrique Cayatte

4 comentários:

Anónimo disse...

Acho que vou comprar este livro para a minha pequenita... que por sinal adora ler!!! Oxalá venha a ter professoras entusiastas e criativas como tu!

Ana Cláudia

Sara Oliveira disse...

Este momento deveu-se exclusivamente aos alunos e à história belíssima de José Eduardo Agualusa, que eu recomendo vivamente. Eu apenas me limitei a ouvi-los!

Anónimo disse...

OLÁ SARA,PARABÉNS
Tenho muitos anos e ainda não sabia como os cavalos marinhos são gerados. Para além de seres uma boa ouvinte, quando falas dizes sempre coisas valiosas.
Um beijinho
MJC

Teresa Lobato disse...

Belíssimos contos, belíssimas imagens. Um livro que anda sempre na minha pasta. :)

Fiquei feliz por te reencontrar. Tu não sabes, mas nós temos muitas afinidades (rsrs).

Beijinho