segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ao menos uma vez, gostava de escrever um poema assim.

Júlio Machado Vaz à conversa com Aurélio Gomes, num programa de rádio, O Sexo dos Anjos - Rádio Nova, Porto entre 1989 e1997

Falavam  a propósito de um poema de Sérgio Godinho "Que há-de ser de nós?" 


"Aurélio Gomes - Ao menos uma vez , gostava de escrever  um poema assim. Ou só um verso!

Júlio Machado Vaz - É fascinante ver as nossas vidas transfiguradas pelo talento dos poetas. Sabe você, o único prémio atribuído a Freud, foi-o pela qualidade literária da sua obra. O velho Sigi escrevia maravilhosamente. Sobre o amor era um pouco pessimista quanto às possibilidades da Ciência, aconselhava as pessoas a interrogar os poetas e os apaixonados. O Eugénio tem dois versos que rezam assim: «Nenhum amor é estéril, um filho pode ser uma estrela ou um verso.» É verdade. As relações desfazem-se ante os nossos olhos, os outros escapam-se-nos por entre os dedos e nós pensamos «por que raio me meti nisto, os sinais estavam à vista!» Mas lá no fundo sabemos que não nos poderíamos ter dado ao luxo de não tentar, ficaríamos sempre a pensar «e se eu ...?» Por isso os técnicos de educação sexual citam tantas vezes a velha frase - «Pode-se transmitir o conhecimento, mas não a sabedoria.» Essa adquire-se à nossa custa. E à custa dos outros! 

Aurélio Gomes - Antes do programa, e para mudar de tema, o doutor estava a conversar com amigos nossos  acerca da Agustina Bessa Luís ..."

Este excerto foi descontextualizado do capítulo "Que há-de ser de nós?", que começa  "Se a paixão der lugar ao amor, para onde vamos depois? Mais amor ou comodismo?" - pergunta Aurélio Gomes.


em  O Sexo dos Anjos de Júlio Machado Vaz, Relógio d' Água, 1991 (excerto)
Que há-de ser de nós? - poema de Sérgio Godinho, música de Ivan Lins. Do álbum "Coincidências", 1983.

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