sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
No teu poema existe um verso em branco e sem medida
No teu poema
existe um verso em branco e sem medida
um corpo que respira, um céu aberto
janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta uma varanda para o mundo
Existe a noite
o riso e a voz refeita à luz do dia
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste
que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonos inquietos de quem falha
No teu poema
existe um canto, chão alentejano
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
o canto em vozes juntas, vozes certas
canção de uma só letra
e um só destino a embarcar
no cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste
que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro.
poema e música de José Luís Tinoco
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